Publicado em 23 de abril de 2024
Discurso do então reitor Marcus Vinicius David no dia da inauguração da Galeria Angelo Bigi em 23 de março de 2024
No momento em que transformamos em realidade a Galeria Angelo Bigi, trazendo à tona o importante legado artístico e cultural do mestre italiano que nomeia esse espaço, faz-se fundamental falar sobre esse grande artista que escolheu exercer seu ofício entre os brasileiros, fazendo seu talento transbordar na Juiz de Fora do final dos anos 1920 e início dos anos 1930, uma cidade ávida por inaugurar uma era de progresso e desenvolvimento em todos os campos, especialmente no das artes.
Ao reverenciar esse virtuose da pintura, a partir das 37 obras doadas pelo arquiteto Antônio Carlos Duarte por ocasião dos 90 anos do teatro, finalmente fazemos jus ao inspirado esteta que contribuiu para transformar o município em referência histórica para a cultura brasileira. Ícone tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Cine-Theatro Central, sob a administração da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), permanece como inesgotável fonte de efervescência.
Nossa principal casa de espetáculos, que completa 100 anos de sua inauguração em março de 2029, teve a chance de acumular preciosos registros de sua grandiosidade em testemunhos e imagens documentais de toda a sua trajetória, que evidencia a importância dos traços de Bigi, tesouros preservados no foyer, nas escadas, no balcão, na boca de cena e, principalmente, sob o forro.
Em pé de igualdade com os grandes teatros mundo afora, o Cine-Theatro Central nada deve aos ícones da pintura na velha Europa, graças ao esmero do artista em criar um refinado desfile de efígies, com Wagner, Verdi, Beethoven e Carlos Gomes no centro do grande teto. Ao sabor da Antiguidade Clássica, o pintor ítalo-brasileiro nos lega requintadas cenas de ninfas e faunos que remetem à Arcádia imaginada por poetas e artistas.
Não há dúvidas de que o Cine-Theatro Central deve parte de sua grandiosidade à inspiração de Bigi. Há muito mais a ser dito sobre o pintor que deixou seus traços em telas dos mais variados gêneros e na decoração de prédios como o que abriga o Museu do Crédito Real ou os que foram edificados por Pantaleone Arcuri, outro imigrante italiano que marcou a história de Juiz de Fora e cujo primogênito, Raphael Arcuri, criou o projeto arquitetônico do teatro.
Nesta Galeria, disponibilizamos ao público e aos pesquisadores uma fonte documental iconográfica das décadas de 1940 e 1950, com paisagens rurais e urbanas de Juiz de Fora e do Rio de Janeiro, entre outros temas. É importante destacar que a generosa doação de Duarte permitiu à Universidade acolher uma parcela temporal da história de Bigi intrinsicamente ligada à memória artística da própria cidade que o acolheu.
Na expectativa de que essa exposição permanente se transforme em importante acréscimo à grandiosidade do Cine-Theatro Central, a UFJF tem a honra de homenagear o cidadão e o pintor que deixou sua contribuição para que a cidade alcançasse seu tempo de glória na economia, na política e na cultura. Assim, a Galeria Angelo Bigi cumpre a missão de reverenciar nossa memória, evidenciando as raízes que embasam nossa identidade.
Marcus Vinicius David
Reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora