Muito mais que uma atmosfera onírica

Publicado em 23 de abril de 2024

Discurso da então pró-reitora de Cultura Valéria de Faria Crsitófaro no dia da inauguração da Galeria Angelo Bigi em 23 de março de 2024

A percepção de que o Cine-Theatro Central é muito mais que um espaço histórico, a guardar em si registros da vida artística, social, econômica e política de nossa cidade, nos traz a este momento tão especial: o de reconhecimento da trajetória de Angelo Bigi, o esteta que, em 1907, com apenas 20 anos, trocou a Itália pelo Brasil e nos legou um espetáculo perene, o de suas pinturas.

A Galeria Angelo Bigi, que temos a honra de oferecer àqueles que pisam neste importante templo da cultura nacional, muitas vezes com projeções internacionais, traz uma seleta amostragem dos passos desse pintor que fez, exatamente aqui, neste prédio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sua obra mais expressiva.

Coube à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), responsável, desde 1994, pela salvaguarda do edifício arquitetado por Raphael Arcuri e decorado por Angelo Bigi, a distinção de reunir os trabalhos generosamente doados pelo colecionador Antônio Carlos Duarte, um acervo reunido ao longo de três décadas de um criterioso garimpo por galerias de arte, feiras, brechós e antiquários. 

Ao reunir esse precioso acervo, oferecemos ao espectador uma fonte iconográfica dos anos 1940 e 1950, a partir de cenas variadas, que abordam desde paisagens, casarios, naturezas mortas e marinhas até a figura humana, com um retrato de Dom Quixote, personagem do romance de Miguel de Cervantes que fascinava o artista.

A coleção aqui exposta, em caráter permanente, demonstra que, apesar de ser reconhecido por sua pintura parietal, Angelo Bigi apresenta uma face pouco conhecida: a dos cavaletes, das aquarelas sobre papel, das pinturas em óleo sobre tela e sobre madeira, preciosidades agora sob a guarda da Pró-reitoria de Cultura (Procult,) que passa a evidenciar importante parcela temporal da trajetória do artista.

A Galeria Angelo Bigi, que inauguramos justamente como parte das comemorações dos 95 anos de criação do Cine-Theatro Central, traz, por fim, a merecida aclamação ao imigrante que povoou a cena interna desse magnífico espaço, cobrindo as paredes laterais e o teto com uma atmosfera onírica de faunos, musas, ninfas e as efígies de compositores ilustres.

Estas são representações de uma cidade que já foi vista não apenas como a Manchester Mineira, mas, sobretudo, como a Atenas de Minas Gerais. Eis o que precisamos rememorar, a fim de restaurar a verdadeira vocação de Juiz de Fora: a da criação artística e cultural sempre em ebulição.

Valéria de Faria Cristófaro

Pró-reitora de Cultura