Publicado em 18 de julho de 2017
O mestre de cerimônias anuncia o homenageado da noite, Frank Sinatra, e logo depois entra no palco a presença mais esperada: Bibi Ferreira de volta ao Cine-Theatro Central, 16 anos depois. O espetáculo, apresentado no último sábado, 15 de julho, funcionou tão bem graças à união do repertório de um dos mais consagrados artistas do jazz, que ficou conhecido por sua voz, carisma e arranjos musicais, com Bibi Ferreira, maior diva do teatro musical brasileiro e umas das mais belas vozes do país.
Em sua quarta passagem pelo Central, depois de sua apresentação do repertório Piaf em 1985, e do repertório Amália Rodrigues em 2001 – e ainda da montagem de Senhora, em 1954 –, Bibi mostra que, apesar dos 95 anos, não tem planos de se aposentar e comenta: “Eu acho que trabalhar no teatro, essa comunicação direta com a plateia é maravilhosa. Pra mim não tem nada melhor no mundo”, disse, logo após sua apresentação. E são justamente suas intervenções, comentários e interações com a plateia o que mais encanta, além de sua voz, durante o show. É nítido o prazer que ela tem em estar ali.
A voz e a sensibilidade da cantora emocionaram a plateia em músicas como Strangers in the Nigth e Nature Boy, que marcaram o repertório romântico do cantor e foram cantadas com delicadeza e firmeza simultâneas no show. Mas a diva também empolgou os espectadores ao cantar os sucessos mais dançantes de Sinatra, como Lady is a Tramp e Cheek to Cheek, mas o momento mais animado do show aconteceu quando, para contar sobre como Sinatra se sentiu ameaçado durante o estouro do rock n’ roll, Bibi cantou Rock Around the Clock, de Bill Halley. Antes da música, o mestre de cerimônias contou que Sinatra não conseguia entender como as pessoas gostavam daquela “porcaria de rock n’ roll”, ao que Bibi interveio: “Eu adoro essa porcaria”, disse, arrancando muitos risos do público.
O mestre de cerimônias, Nilson Raman, que já trabalha há mais de 20 anos com Bibi, é quem narra o espetáculo, contando a história de Sinatra e das músicas do show. Mas é Bibi Ferreira quem dá o tom e decide seus rumos. Em meio a seu repertório de Sinatra, Bibi decidiu e anunciou que queria cantar também algumas músicas da Edith Piaf para a plateia juiz-forana, que não a via há tantos anos, e foi seguida por seu regente Flávio Mendes. Depois da narração de Nilson sobre a cantora francesa, a própria Bibi comentou, antes de cantar La vie en rose, como a música deveria ser cantada, baixinho, no ouvido da pessoa amada.
Após cantar um pouquinho de Piaf, Bibi retornou a Sinatra para encerrar o show com o maior sucesso do cantor, New York, New York. Música que encantou quem ouvia e deixou claro que a beleza da voz da cantora permanece e ainda vai encantar muitos teatros, por muito tempo.
Entrevista
Na véspera de seu show em Juiz de Fora, Bibi Ferreira recebeu a imprensa no hotel para uma coletiva, que insistiu em realizar apesar do cansaço da viagem. Antes, ganhou do diretor do Cine-Theatro Central, Luiz Cláudio Ribeiro (Cacáudio), um buquê de rosas vermelhas e CDs do Coral da UFJF, do Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga – cuja 28ª edição tem início no próximo dia 23 – e do próprio Cacáudio, que também é músico.
Na entrevista, ressaltou que trabalha porque vive de seu trabalho: “E eu tenho trabalho, bastante até, mais até do que eu deveria ter. Gosto imenso e me divirto muito dentro do meu próprio trabalho”, afirmou, para concluir: “Tenho trabalhado muito, sem parar, o que me deixa muito feliz, porque adoro a minha profissão.”
Bibi, que não só trouxe o grande musical americano para o Brasil com My Fair Lady, como estrelou uma produção legitimamente nacional, Gota d´Água, comentou sobre a carência de autores de teatro musical brasileiro – embora as plateias nacionais acorram às franquias de musicais da Broadway: “Falta o tempo natural da conquista. Já conquistamos muito e estamos conquistando todos os dias e vamos continuar a conquistar. É o tempo da conquista que está faltando.” Ela citou seu grande amigo e produtor, Nilson Raman, como um produtor ainda jovem da área, que vem contribuindo para esse processo.
Sobre o show no Central, a diva falou de suas expectativas, afirmando que toda plateia que se encara é uma plateia nova: “São chamadas, em inglês, a happy audience, uma plateia feliz, porque é uma instância em primeiro lugar. Isso é importante e muito perigoso, porque falar que é primeira é complicado, porque dá a impressão que a gente não sabe muito bem o que vai fazer. Mas esse show é muito bonito, e o repertório não podia ser o melhor – e não vou dizer qual é o repertório – mas tudo o que faço na vida é com prazer”.
Débora Mattos Costa
Colaborou: Izaura Rocha