Publicado em 04 de abril de 2019
Se no último sábado (30/03) o Cine-Theatro Central teve lotação máxima com o espetáculo Valencianas, que reuniu Alceu Valença e Orquestra de Ouro Preto em comemoração do aniversário de 90 anos do teatro, no domingo (31/03), com o Palco Central dividindo espaço com a Feira de Discos Juiz de Fora na Praça João Pessoa, o público vivenciou um evento na rua com muita música, sorrisos e danças.
O evento teve início ao meio-dia com discotecagem, banquinhas de discos de vinil, barraquinhas de comidas, doces, e cervejas artesanais. Para a feira, entre as banquinhas de discos instaladas na Galeria Ali Halfeld, contou-se com a presença de 17 expositores vindos de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Com uma discotecagem completamente feita por vinil, os toca-discos foram divididos pelos DJs Kureb, Ruan e Lagartixa da festa Inferninho; Alex Paz e Juca da festa Avalanche; Pedro Paiva do Vinil é Arte; Snupin da 18 Kilates; e Gramboy da Bang!. No repertório, músicas brasileiras, funk, rap, reggae, latinidades e muito groove.
“Embora o Central seja o palco dos grandes espetáculos e shows, as pessoas veem o teatro como um lugar de um conjunto de pessoas privilegiadas. Mesmo que isso antes fosse verdadeiro, desde que o Central passou a ser administrado pela Universidade Federal de Juiz de Fora tornou-se um teatro público. Então é importante que o teatro dê esse caráter público aos eventos quando promove algum show e apresentação. Buscamos patrocínio para esses eventos para que a comemoração fosse gratuita”, disse o diretor do Central, Luiz Cláudio Ribeiro (Cacáudio). “As apresentações de domingo reforçam esse caráter público, por terem sido feitas numa tarde com barracas de chope, de comida e coisas sendo expostas, apresentação de artistas locais e DJs. Isso mostra a abertura do teatro à população, valorizando as expressões artísticas locais, contribuindo para o reconhecimento do Central como espaço público”.
Ao anoitecer de domingo, as bandas tomaram seus postos no palco montado em frente às portas frontais do teatro. A Zagaia, formada por Chiquinho no baixo e vocal, Daniel Goulart na guitarra e Delorme na bateria, trouxe seu repertório autoral, mas também cantou sucessos como “Medo da Chuva”, de Raul Seixas; “Eclipse Oculto”, de Caetano Veloso remixado aos refrões de “Satisfaction” dos Rolling Stones; “Filho Único”, de Erasmo Carlos; e “Televisão”, dos Titãs. O público nostálgico, e agitado com os clássicos do rock brasileiro, cantou as letras em coro e dançou de pertinho.
Logo após, chegou a vez da banda Eminência Parda – formada por Daniel Goulart e Wesley Carvalho nas guitarras e vozes, Edson no vocal, Marcelo Panisset na bateria, Luiz Lima na percussão e vocais, e Guiley Carvalho no contrabaixo -, que iniciou sua apresentação com potentes gritos de resistência. O vocalista Edson Leão falou sobre resistir com cultura nos espaços públicos, sobre política e carnaval. Além de suas músicas autorais, a banda também cantou músicas como “Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua”, de Sérgio Sampaio, e “Sujeito de Sorte”, de Belchior, além de cantar os refrões de “Todo Carnaval Teu Seu Fim”, da banda Los Hermanos; “Sociedade Alternativa”, de Raul Seixas; “Amor”, dos Secos & Molhados; “Velha Roupa Colorida”, sucesso composto por Belchior e imortalizado na voz de Elis Regina; e “Pavão Misterioso”, composição de Ednardo.
O Palco Central atraiu um público diverso, mesmo aqueles que não souberam antes sobre as comemorações: pessoas que passavam pela rua e que ali ficavam encantadas com as músicas e shows. Analista de logística, Júnior Almeida, 28 anos, que ficou no evento do início ao fim, disse que “Foi um ótimo evento! E foi muito bom ter o espaço ocupado com cultura”.
Como na canção que agitou a noite, vivemos tempos em que “precisamos todos rejuvenescer”, manter o brilho nos olhos para criar algo novo, como também nos manter atentos e fortes para preservar nossa história diante daqueles que insistem em desvalorizá-la ou contradizê-la. É essencial ocupar os espaços públicos com cultura, cuidar do que é nosso, e de todos. O teatro, que nesse ano comemora 90 anos, traz em suas colunas, janelas e pinturas a luta diária pela sua existência desde seus primeiros anos, e mostra que continuará trilhando esse caminho.
Texto: Fernanda Castilho